quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Pelo direito à tristeza!

Ninguém se preocupe, não deixei minha franja crescer, nem estou usando roupas escuras, muito menos calças justas (seria uma visão aterradora!). Em resumo não virei emo. No entanto quero lançar meu protesto, pensei até em lançar o MSDT (movimento dos sem direito à tristeza), mas preferi uma via mais tranqüila…

Confesso que fiquei triste com o resultado da eleição (calma, calma, peço aos simpatizantes da presidente eleita uma moratória de julgamento…). Creio que, como cidadão, tenho o direito de ficar feliz ou triste, de ter esperança ou ficar preocupado. Pode ser, e sinceramente espero que sim, que minha tristeza seja infundada e que estejamos realmente avançando em nosso processo democrático. Esta seria uma das muitas vezes em que ficaria feliz em estar errado.

Me permitam aqui, no entanto, fundamentar minha tristeza, ainda que sob a perspectiva dos “vitoriosos” seja desinformada, equivocada ou quem sabe até estúpida. Não estou triste por “meu” candidato ter perdido. Certamente o candidato derrotado no segundo turno não representava meus sonhos de governo. Embora tenha meus momentos de ingenuidade não tinha uma postura maniqueísta (para vocês menos informados, embora se refira a um movimento religioso de origem persa, eu o uso no sentido mais moderno de polarizar um lado como bem e o outro como mau). Assim não creio que é a vitória das trevas contra a vitória da luz .

Durante a campanha todo candidato faz afirmações para agradar torcida, pois bem, vamos dar à presidente eleita este desconto. Resta ainda saber então qual sua proposta de governo. Tomei o tempo de ler o famoso (ou famigerado) PNDH3. Este não é um dossiê secreto encomendado por arapongas, papagaios ou tucanos… Na verdade é a proposta de mudanças do atual governo, à disposição de quem quiser (e tiver paciência de ler 267 páginas) para download no site do governo, do qual a presidente eleita afirma ser a mais fiel representante de continuidade.

Como já afirmei em outra postagem, o modelo proposto pelo PNDH3 não é o que eu gostaria de ver em meu país. Minha tristeza então não é por temer que a atual presidente eleita vá almoçar criancinhas, ou queimar igrejas. Minha tristeza é que o modelo de país que ela propõe se opõe ao cristianismo clássico em vários pontos! Se opõe quando propõe ações educativas visando a “desconstrução da heteronormatividade”, se opõe quando promove a descriminalização do aborto, se opõe quando promove o fim do “preconceito” com os profissionais do sexo e a regularização desta profissão, se opõe quando promove o controle dos meios de comunicação. Estes são temas claramente apresentados, não dependem de interpretação ou distorção de mentes reacionárias (como alguns concluiriam sobre minha pobre pessoa).

Minha palavra aos cristãos que se sentem ofendidos com respeito à minha tristeza (curioso, não é?, que alguém se ofenda com a tristeza, mesmo que iludida, de outros…) é, em primeiro lugar, pedir desculpas, pois minha intenção não é ofender. Em segundo lugar minha sugestão é que você leia com atenção a proposta de governo representada pelo PNDH3 (que o atual presidente afirma ter assinado sem ler!). Verifique se esta proposta representa aquilo que você gostaria de ver no Brasil no futuro. Caso seja, então estamos em paz e só nos resta esperar para ver se realmente teremos um país melhor à medida que a presidente eleita tenta colocar em prática esta proposta.

Enquanto isso, permaneço triste ao ver meu país caminhando em uma direção que não representa o que desejo para meu povo, meus filhos e netos. Como disse antes, este é mais um caso em que ficarei feliz caso minha perspectiva atual esteja equivocada.

Um abraço, mesmo triste!

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Praia = frio e vento?

O inverno no sul já terminou oficialmente. Ainda temos algumas noites frescas, daquelas que reclamam um moleton e que para dormir ainda puxamos uma coberta. Mas é evidente que os termômetros estão subindo. Já retomei o uso de bermudas em casa durante o dia e meu hábito (certamente herdado de minha bisavó tupiniquim) de andar descalço. Para quem não conhece as praias do RS, com a possível exceção de Torres, tem uma característica unânime: são sofríveis. Nosso litoral é marcado por ventos frios e constantes, água escura (quando não poluída), areia grossa e escura e uma temperatura de água que a torna ideal… para pinguins! Diante desta realidade me lembro de nossa temporada na República Dominicana e tomo a liberdade de postar aqui um trecho em que comento esta experiência tão diferente.


“Praia! Sim praia... não um praiazinha feia, com areia grossa e água escura. Não praia com uma água em que se molhar é mais uma afirmação de virilidade do que prazer de se molhar.... Mas uma praia com areia branca..., com uma água que é fresca e não fria, de uma transparência quase obscena, com corais e peixes coloridos, com árvores e sombra para se descansar... esta é a praia de Sosua, que fica a 2 horas de casa. Estivemos lá ontem com toda a comunidade. Saímos de casa às 6 horas e às 8:30 já estávamos dentro da água. Só saímos da areia às 16:30 quando ninguém mais aguentava e já era hora de voltar. Como sou um cara de sorte descobri que ali não é o paraíso que parece ser. Logo em um dos primeiros mergulhos, descobri o prazer de se bater o dedão do pé em um ouriço do mar. Considerei arrancar o dedão fora de tanta dor, mas como não consigo mais alcançá-lo com os dentes, tive que esperar. Foi bom, pois em meia hora não doía mais e assim continuo com os 10 dedos do pé. De tarde fomos a um recife (reparem bem no meio da baía) ali descobrimos um ponto em que dois recifes quase se tocam. Sobre o recife a profundidade é de 50 cm, mas o fundo do mar fica a cerca de 6 metros de profundidade. Assim é possível mergulhar e passar por baixo dos recifes neste ponto. Passei várias vezes e me diverti muito. É claro que me queimei além do que devia, mas foi um preço baixo pelo prazer de curtir a praia.”

Fico então mais na lembrança que na esperança de curtir uma praia assim. Sei que para muitos, a definição do céu é uma praia assim ou ainda melhor. Enquanto esperamos por este “ainda melhor”, deixo com vocês esta lembrança agradável!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Descobri que sou medieval!

Hoje descobri que sou medieval! Na verdade foi um alívio, pois andava mesmo me sentindo fora de época ou pelo menos meio perdido com a velocidade e o rumo dos acontecimentos. Procurei minha armadura, mas não achei, talvez eu seja no máximo um cavaleiro “cavalgante” e não andante…
Como foi que eu descobri minha “medievalidade”? Esta me foi revelada por um locutor de rádio, o qual eu gosto e respeito. Este fez comentários sobre a posição positivamente medieval de igrejas e religiosos que querem travar o processo político em nosso país impondo sua opinião retrógrada e estúpida sobre assuntos a respeito dos quais não conhecem nem deveriam opinar. A seguir ridicularizou posições anti aborto como machistas e desinformadas (obviamente pré iluministas), e qualquer posição contrária ao casamento homosexual (me senti realmente na idade das trevas) ou oposta à adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Para fundamentar seu ponto de vista, certamente desenvolvido ao longo de anos de pesquisa e reflexão, ele afirmou saber que há no Brasil mais de 85 mil crianças ansiosamente esperando por adoção enquanto nós acéfalos medievais impedimos que casais homosexuais as adotem.
Eu já estava buscando meu endereço feudal onde poderia amarrar minha fiel animália de carga quando parei para pensar um pouco (sim, eu faço isso ocasionalmente). Primeiro minha posição anti aborto, longe de ser desinformada, foi alimentada por leituras que demonstram haver pelo menos espaço científico, jurídico e moral (para não incluir teológico) para um debate sobre quando então se inicia a vida humana. Em seguida me lembrei que embora talvez existam apenas 85 mil crianças abandonadas no Brasil (desconfio que o número é muitas vezes maior) o número de crianças esperando por adoção não é tão  grande. Especialmente crianças dentro de um ano de vida. Ao que me consta (experiência pessoal) casais esperam até 3 anos para adotar. Além disso, minhas limitadas pesquisas nos pergaminhos medievais que estudei nos longínguos mosteiros da Universidade de São Paulo, me dão ampla base para afirmar que uma criança sendo criada por dois adultos do mesmo sexo terá sim dificuldade em desenvolver sua identidade sexual de modo saudável, haja vista a ausência de modelos de gênero em seu contexto imediato.
Lembrei-me então da antiga estratégia de debate na qual um lado desqualifica de tal modo o caráter e a competência do interlocutor, que fica difícil prestar atenção no que ele ou ela tem a dizer. Então talvez, só talvez, minha posição não seja tão retrógrada e desinformada. Talvez exista base para se defender a vida humana não importa em que estágio do desenvolvimento, talvez não seja alienado e “xiita” argumentar que embora adultos tenham direito de se relacionar como bem entenderem, há contextos saudáveis e não saudáveis para o desenvolvimento de uma criança. Diante de tudo isso me tranqüilizei e desisti de comprar uma cota de malhas, elmo e escudo e alugar algum pequeno castelo. É uma pena, eu bem que gostaria de partir em uma fantasia quixotesca (refiro-me ao personagem de Miguel de Cervantes, para os que estudaram após 1980), mas a realidade se impõe e minha crença de vida (não religiosa) me faz permanecer e me posicionar pela vida e por contexto familiares saudáveis para aqueles que tendo passado por um trauma do abandono possam crescer com todo equilíbrio.

Saudações medievais…

terça-feira, 5 de outubro de 2010

E deu Tiririca!

Eu me confesso um ingênuo. Não um ingênuo que não crê na maldade humana. Cinquenta e dois anos de vida já enterraram definitivamente esta noção. Nem tampouco um ingênuo que crê em um sistema perfeito. Meus últimos anos deram conta desta fantasia. Mas me considero um ingênuo no sentido de crer que as coisas podem dar certo… ou talvez pelo menos o contrário: que algo esteja tão ruim, que não pode ficar pior. No fundo tenho (ou tinha) ainda um resquício de crer no bom senso da coletividade.

Não conheço o ilustre deputado federal recém eleito Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca. Não tenho nenhuma prova de que bem ou mau intencionado. Alguns afirmam até que não nem de longe o mais nocivo dos eleitos. Mas há um tom de piada de mau gosto em tudo isso. Mesmo que eu ignore seu lema “Vote em Tiririca, pior que ta não fica!” ou sua frase de campanha “Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu, vote em mim que eu te conto.” Ainda assim é difícil aceitar que o nobre deputado trará clareza ou lucidez à câmara federal.

Neste domingo de votação Ana Paula, Raquel e eu viajamos por cerca de 4 horas para poder cumprir nosso dever cívico. Tenho convicções fortes contra aborto e promoção da homosexualidade, assim não poderia me furtar de participar. No entanto, minha surpresa e decepção (talvez mais um passo na cura de minha ingenuidade) é que Tiririca teve mais de um milhão e trezentos mil votos. Tenho dificuldade, mesmo diante de tantos eleitores assim, em crer que esta parcela significativa da população confie em sua capacidade como legislador. Tenho de me deparar então com a pergunta do que isso significa: Será mera ironia ou ceticismo quanto ao nosso sistema de governo? Será um movimento de protesto? Será um vale tudo onde já que todo mundo rouba, pelo menos vou votar em quem me diverte? Ou será, me assusto com isso, que ele representa o que realmente quer nosso povo?

Seja lá o que for, percebo um novo congresso altamente tendencioso ao atual governo. Caso a candidata deste governo seja eleita em segundo turno, haverá uma conjuntura em que poderão, potencialmente, alterar grande parte da constituição. Mas não se preocupem, dirão alguns, teremos Tiririca e Romário lá para equilibrar os desvarios dos mais ousados… Diante disso tudo me pergunto se vale o dito popular que “cada povo tem o governo que merece”, ou se Deus resolveu deixar nosso país sofrer as conseqüências de suas escolhas. Uma coisa tenho certeza, o outro ditado famoso: “Vox populi, Vox Dei”, realmente não é verdadeiro. Pelo menos terei o consolo de saber pelo palhaço Tiririca o que faz um deputado federal…

do eleitor que deve ter cara de palhaço...

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Entre Demônios e Golpistas

Desde pequeno tenho sido avisado que alguns conflitos são “briga de cachorro grande”. Apesar dos meus 185 cm de altura e “quase” 100 quilos (resta saber em que sentido se dirige o quase) não me considero cachorro grande em quase nenhuma área. A partir desta perspectiva, como reagir à interminável enxurrada de e-mails, vídeos “gentilmente” enviados para sua caixa sempre com alguma ressalva do tipo “isso é seríssimo”, “repasse a todos seus contatos” ou “precisamos fazer alguma coisa”. Me refiro aos e-mails em que ficamos (nós cachorros menores) entre demônios e golpistas.

Por um lado alguns afirmam com revelações surpreendentes (embora com pouca ou nenhuma preocupação com comprovar ou sequer mencionar fontes). Em algumas mensagens sou informado  que há uma conspiração demoníaca em que votar na Dilma significa permitir que o maior sacerdote satanista assuma o controle do Brasil. Em outra uma pessoal supostamente sério afirma sem dúvidas que as urnas eletrônicas estão preparadas para dar uma vitória de 75% aos candidatos de esquerda (aliás hoje há outra posição além de esquerda?). Meu maior medo é que o Tiririca assuma o governo (talvez não seja o pior, mas seu gosto musical é horroroso… imagina ele apresentando uma versão sua do hino nacional!).

Por outro lado uma série de posicionamentos que parecem ser totalmente alérgicos a qualquer crítica que seja dirigida ao governo, a qualquer questionamento feito à sua santidade (é este o tratamento atual, não?) ao presidente da República. Tudo que se fala contra o governo é sempre um golpe das elites  descritas como recalcadas, cruéis e intolerantes… Tendo estudado em um programa de pós graduação na PUC de São Paulo em uma época em que PT ainda era oposição me lembro bem de como era arriscado social e academicamente posicionar-se contra a perspectiva marxista vigente.

Não quero minimizar a seriedade das questões levantadas nem por um lado nem por outro. Os extremos não merecem mais do que chacota, mas sei que muita gente séria e equilibrada têm se debruçado sobre estas questões. Quero apenas registrar como me sinto, como um cidadão relativamente bem informado (resta saber se a informação que recebo é legítima ou verdadeira) e não totalmente destituído de inteligência. Afirmo, após ler o PNDH3 (sim, tomei o tempo para ler tudo aquilo…), que não desejo aquilo tudo para o meu país. Assim, tateando no meio de tanta informação (e confusão) vou tomando minhas decisões. Mas no fundo, no fundo, anseio mais e mais pelo Reino de Deus!

Um abraço de cachorro pequeno!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hoje almocei no "Sujinho"

Armado de coragem e de um estômago que digere até borracha (herança de um avô carreteiro ou de uma avó índia, não sei…), hoje almocei em um boteco próximo ao escritório ao qual carinhosamente chamo de “sujinho”. Este nome nem é tanto pela falta de higiene, embora seja o tipo de lugar que é melhor comer de olhos fechados ou no máximo entreabertos. Como não poderia deixar de ser o proprietário é simpático e o pessoal que ali trabalha é sorridente. A comida é gostosa de um jeito meio caseiro, meio relaxado de ser…  Na verdade me divirto no “sujinho”. Há um ar de aventura (será que vou sobreviver a este prato?), um ar de vida dura (embora eu não possa reclamar), há um cheiro de povo (me desculpe General Fiqueiredo) que tem seu charme.
Não sou estranho a jornadas alimentícias que me levam onde nenhum outro homem (minimamente preocupado com saúde) ousou chegar.  Me lembro dos lanches de meia noite com salsicha crua, banana e queijo (para horror de um irmão mais culto e refinado). Me lembro também de uma experiência missionária entre índios da tribo Caiuá. Chegando a uma das moradias me foi oferecido uma bebida chamada chicha. Como todo aluno de 4ª série (ou será 3º ano do Primeiro Ciclo ou 5º ano do ensino Básico, ou…?) sabia que esta é uma bebida feita de milho mastigado e cuspido em um bacia onde fica fermentando (cuspe, lembra?) por alguns dias. Beber aquele “néctar” foi talvez uma das maiores provas de meu ardor missionário.
Minhas filhas tiveram uma experiência também desafiadora no período em que moramos na República Dominicana. Saindo com um grupo de jovens, elas aceitaram comer cerdo (porco) frito. Até pode soar comum demais, mas deixe-me terminar de colorir o quadro… Esta iguaria era preparada em barracas (tipo de feira) em uma calçada de Santiago. Além de ser feito ao ar livre, o óleo era trocado com regularidade religiosa ao final de cada década, adquirindo assim uma consistência de melado e uma cor de piche. Tudo isso, no entanto, era amenizado pela presença de inúmeras moscas ao redor. Segundo nossos amigos dominicanos, se as moscas aprovam deve ser comestível.
Se sobrevivi a tudo isso por que não comer no “sujinho”? E já que estava neste requintado estabelecimento da alta cozinha, escolhi logo um prato (no final era mais uma travessa) de peito de frango e batatas fritas (pelo menos era frango e não carne vermelha…). Da próxima vez que passar por Porto Alegre já esta convidado, almoçamos no “sujinho”. Mal pode esperar não é?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Wounded Healer

Parafraseando a já célebre citação, este é o título de um livro que eu não li, mas gostei… Deixe-me explicar…


Assisti há algum tempo a um culto em uma igreja muito conhecida. Fiquei devidamente encantado com o louvor e então o pastor começou a pregar. Sua retórica era impecável, suas ilustrações cheias de exemplos e mesmo suas piadas eram exemplares. Trajava um terno muito bem feito e até seu cabelo estava perfeito. Infelizmente (talvez fruto de inveja?) a mensagem igualmente brilhante, me deixou frio, sem reação. Sim, eu sei que a Bíblia afirma que a Palavra de Deus não voltará vazia. Mas fiquei refletindo o que me havia deixado apático.


Por fim concluí que era devido a uma certa “plasticidade” do culto. Tudo era feito cinematograficamente. Eu admiro e valorizo competência em qualquer área que seja. Talvez esteja radicalizando ou justificando minha própria mediocridade, mas acho que qualquer encontro entre Deus e seu povo tem que ter cheiro de gente! Digo mais, aquele que ensina ou ministra de qualquer forma,tem que ter cheiro de gente. Daí eu me lembrar do título acima, que vi na lombada de um livro, gostei, mas nunca cheguei a comprar ou ler.


Na minha vida (e olha que já estou no meu qüinquagésimo terceiro ano de vida) tenho sido tocado por muita gente que falou, ensinou, escreveu… Em geral os que mais me tocam são aqueles que mancam, tropeçam, lutam com suas fraquezas… que tem algumas imperfeições enfim, estão cientes delas e, ainda assim, se arriscam passar pelo ridículo de se expor para que Ele cresça.  Com isso não estou fazendo uma apologia da fraqueza, mas da transparência. Tenho assumido como princípio de vida que não devo tentar ser modelo de chegada, mas modelo de caminhada (com suas quedas e quebraduras inerentes).


Se você, como eu, é seguidor de Jesus, deixe-me desafiá-lo a deixar suas lutas, vitórias e derrotas à mostra. Certamente não garante sucesso, nem faz parte de um bom marketing pessoal, mas tenho bastante convicção de que se aprende mais da caminhada e a respeito do nosso mestre com uma vida real do que com um modelo de vitrine perfeito, mas intrinsecamente artificial. 

terça-feira, 31 de agosto de 2010

Seria engraçado se não fosse real...

Cito abaixo um trecho de uma carta de um professor da UFRGS publicada no jornal Zero Hora daqui de Porto Alegre. É óbvio que é pura ironia e que há muitos outros componentes nesta equação, mas que tem com certo ar de verdade, tem. Me diga o que você acha...

O que eu realmente quero é ser tratado como bandido neste país. Exijo os mesmos direitos constitucionais. Não deixo por menos. Quero isonomia de tratamento. Explico. Primeiramente, quero ter o direito de ir e vir livremente, a qualquer hora do dia ou da noite, caminhar pelas ruas e parques, sem preocupações, e não viver mais com medo, atrás de grades e barras de ferro. Igualzinho aos bandidos.

Exijo, também, ter o direito de defender a minha família e o meu patrimônio com armas apropriadas. Atualmente a legislação só permite que eu utilize em minha defesa uma faca de pão (com lâmina inferior a 10 centímetros) e um cabo de vassoura. Usados com muita moderação. Ai de mim se eu machucar o meliante! Aí sim eu vou sentir na pele o que é o rigor da lei brasileira. Quero ter uma arma de verdade, adquirida livremente no comércio local, sem necessidade de porte, exame de tiro, psicotécnico e pagamento de taxas. Quero também poder usá-la e não precisar estar ferido pelo arrombador, dentro da minha própria residência, para começar a defesa da minha vida. Enfim, tudo aquilo que não se aplica aos bandidos não deve ser aplicado a mim.

Tem mais. Não quero mais pagar imposto sobre o produto do meu trabalho (aquilo que os meus ex-alunos, hoje na Receita Federal, teimam em chamar de “renda”). Bandido não é tributado, não paga imposto sindical nem conselho regional. Exijo o mesmo tratamento fiscal. E, se por acaso eu ficar impedido de trabalhar, gostaria que meus filhos e esposa recebessem uma pensão do Estado, todo o santo mês, igualzinho aos filhos e esposas dos bandidos. Afinal, minha família também merece um tratamento assim, justo e diferenciado. E digo mais: cairia muito bem um acompanhamento de alguma ONG de direitos humanos para fiscalizar o processo e cuidar do nosso bem-estar.


Trecho da carta Exijo ser tratado como bandido - por Gilberto de Oliveira Kloeckner, Professor da UFRGS - Artigo em Zero Hora, 06/08/2010

sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hoje fui ultrapassado!

Pois é hoje eu fui ultrapassado! (antes que algum engraçadinho se apresente, fui (e não estou) ultrapassado no trânsito!). O fato em si nem sequer mereceria menção se não fosse por alguns aspectos que deram a esta ultrapassagem um colorido todo especial.
Eu estava parado na sinaleira e uma senhora cruzava a minha frente. Quando esta estava bem na minha frente a sinaleira abriu e eu simplesmente esperei enquanto a senhora continuava a cruzar a pista. Um indivíduo logo atrás de mim buzinou, e tomando a pista da direita e cantando os pneus ao arrancar, me ultrapassou e enquanto gesticulava (estaria ele treinando uma habilidade recém adquirida em LIBRAS?) entrou à esquerda na avenida adiante de mim.
Obviamente o evento foi tão surreal que nem sequer me ofendeu, à princípio… Continuei meu caminho (sim, só após a senhora, agora totalmente apavorada, ter terminado de cruzar a minha frente) e logo chegava em segurança ao meu escritório. Mas foi neste trajeto (cerca de 5 minutos) que fiquei indignado. Não pessoalmente, mas como membro que sou da raça humana, brasileiro e morador de Porto Alegre.
Indignado com a insensatez de um indivíduo que em outras circunstâncias provavelmente concordaria com o que escrevo aqui, mas naquele momento se sentiu no direito de buzinar, me ultrapassar pela direita (aos menos avisados, isso é proibido) não dar preferência a um pedestre que cruzava na faixa, além de praticar uma série de gestos que apesar de simples eram bastante eloqüentes.
O que acontece nestes momentos? Já li uma vez da expressão “seqüestro emocional”, que é quando uma parte bastante instintiva de nosso cérebro toma as rédeas de nosso processo de pensamento e reage antes que eu possa literalmente pensar. Infelizmente me declaro réu confesso de momentos assim. São momentos em que algo como uma cortina vermelha desce diante de meus olhos e quando me “dou conta”, já falei coisas que em sã consciência preferiria não ter dito.
Podemos alegar o anonimato de uma grande cidade, o stress do trânsito, o atraso para um compromisso, o que seja! Mas a realidade é que por alguma razão imperceptível para os demais mortais passo a acreditar que minha “dignidade foi ferida”, saco da espada (ou revolver, ou fuzil, ou meramente de uma língua afiada) e saio pelo mundo fazendo justiça. Que pena, pois são nestes momentos que em geral faço menos justiça, que sou menos humano e mais animal irracional…
Passei aquele dia não ruminando a ultrapassagem, mas avaliando este processo de selvageria súbita que nos acomete de vez em quando. Tenho certeza de que homens e mulheres mais equilibrados que eu, sofrem menos deste mal… mas para aqueles que às vezes gostariam de apagar gestos, palavras, ou ultrapassagens, deixo minha solidariedade e a mesma esperança que com o tempo e com uma caminhada mais íntima com o Pastor de nossas almas, possamos ter menos e menos destes eventos.

Um abraço mais tranqüilo,

Daniel Lima

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

A Glória das Carroças

            Como primeiro post, gostaria de reproduzir um trecho de um texto meu de Março de 2010. Este é mais para experimentar e inaugurar. Espero em breve postas algo mais atualizado.

Porto Alegre é uma cidade metropolitana em todos os sentidos. Têm universidades, uma vida cultural muito interessante, opções de lazer (para os paulistanos: há vários shoppings e dizem que são muito bons...) e também os dilemas de qualquer metrópole brasileira. Quero começar, no entanto, falando de um elemento surpreendente em uma cidade tão desenvolvida. Logo ao começar a dirigir aqui percebi um trânsito veloz, mas até relativamente disciplinado (carros param para pedestres nas faixas! Reparem que estou dizendo param para os pedestres e não sobre eles...). No entanto logo em um dos primeiros dias eu vinha dirigindo por uma avenida na faixa da direita quando percebi vários carros passando para a outra faixa. Eu imaginei um acidente ou carro enguiçado, mas logo avistei o que estava impedindo o fluir da avenida: uma carroça puxada por cavalo magro e com “cara” de maltratado. A carroça estava cheia de papéis, caixas de papelão e todo tipo de lixo recolhido por seu condutor. Os carros todos davam a volta, sem buzinar e aparentemente sem se incomodar com a carroça. Eu fiz o mesmo imaginando que este seria um evento isolado. Nem bem andei duzentos metros e ali estava outra carroça em toda sua glória medieval! Estranhei e imaginei que havia cruzado com as duas únicas carroças de Porto Alegre... até que encontrei mais uma, e outra, e outra, e... bem já deu pra entender né?

Não tenho nada contra o convívio com carroças, apesar do fato de que sua velocidade atrapalha o trânsito assustadoramente. O que as torna mais encantadoras para mim é que seus condutores não só usam um meio de transporte antiquado, mas agem como se toda a cidade ainda estivesse no século XIX (período entre os anos 1801 e 1900, para aqueles que estudaram depois dos anos 80). Eles atravessam avenidas onde bem entendem, conduzem suas carroças na contra mão, param onde lhes for mais conveniente, com frequência desrespeitam sinaleiras (faróis, semáforos, aquelas luzinhas que deveriam controlar o trânsito...), em resumo tornam nosso trânsito muito mais “interessante”. Além disso, há animais muito mal tratados, pelo menos aos meus olhos de leigo. Descobri depois que Porto Alegre tem cerca de sete ou oito mil carroças de tração animal (falo daqueles de quatro patas). Esta característica já criou tanto problema que há uma lei que até 2017 as carroças serão proibidas. Não sei qual será o destino de todos os cavalos que subitamente perderão seu emprego. Talvez até lá surja uma bolsa-capim, ou seguro-cavalo, sei lá... Se não houver nada assim vou olhar com ainda mais desconfiança os churrasquinhos de rua.

Um abraço gaúcho a todos e passando por perto, fica o convite de vir tomar um chimarrão às margens do Guaíba!

Daniel Lima