quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Descobri que sou medieval!

Hoje descobri que sou medieval! Na verdade foi um alívio, pois andava mesmo me sentindo fora de época ou pelo menos meio perdido com a velocidade e o rumo dos acontecimentos. Procurei minha armadura, mas não achei, talvez eu seja no máximo um cavaleiro “cavalgante” e não andante…
Como foi que eu descobri minha “medievalidade”? Esta me foi revelada por um locutor de rádio, o qual eu gosto e respeito. Este fez comentários sobre a posição positivamente medieval de igrejas e religiosos que querem travar o processo político em nosso país impondo sua opinião retrógrada e estúpida sobre assuntos a respeito dos quais não conhecem nem deveriam opinar. A seguir ridicularizou posições anti aborto como machistas e desinformadas (obviamente pré iluministas), e qualquer posição contrária ao casamento homosexual (me senti realmente na idade das trevas) ou oposta à adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Para fundamentar seu ponto de vista, certamente desenvolvido ao longo de anos de pesquisa e reflexão, ele afirmou saber que há no Brasil mais de 85 mil crianças ansiosamente esperando por adoção enquanto nós acéfalos medievais impedimos que casais homosexuais as adotem.
Eu já estava buscando meu endereço feudal onde poderia amarrar minha fiel animália de carga quando parei para pensar um pouco (sim, eu faço isso ocasionalmente). Primeiro minha posição anti aborto, longe de ser desinformada, foi alimentada por leituras que demonstram haver pelo menos espaço científico, jurídico e moral (para não incluir teológico) para um debate sobre quando então se inicia a vida humana. Em seguida me lembrei que embora talvez existam apenas 85 mil crianças abandonadas no Brasil (desconfio que o número é muitas vezes maior) o número de crianças esperando por adoção não é tão  grande. Especialmente crianças dentro de um ano de vida. Ao que me consta (experiência pessoal) casais esperam até 3 anos para adotar. Além disso, minhas limitadas pesquisas nos pergaminhos medievais que estudei nos longínguos mosteiros da Universidade de São Paulo, me dão ampla base para afirmar que uma criança sendo criada por dois adultos do mesmo sexo terá sim dificuldade em desenvolver sua identidade sexual de modo saudável, haja vista a ausência de modelos de gênero em seu contexto imediato.
Lembrei-me então da antiga estratégia de debate na qual um lado desqualifica de tal modo o caráter e a competência do interlocutor, que fica difícil prestar atenção no que ele ou ela tem a dizer. Então talvez, só talvez, minha posição não seja tão retrógrada e desinformada. Talvez exista base para se defender a vida humana não importa em que estágio do desenvolvimento, talvez não seja alienado e “xiita” argumentar que embora adultos tenham direito de se relacionar como bem entenderem, há contextos saudáveis e não saudáveis para o desenvolvimento de uma criança. Diante de tudo isso me tranqüilizei e desisti de comprar uma cota de malhas, elmo e escudo e alugar algum pequeno castelo. É uma pena, eu bem que gostaria de partir em uma fantasia quixotesca (refiro-me ao personagem de Miguel de Cervantes, para os que estudaram após 1980), mas a realidade se impõe e minha crença de vida (não religiosa) me faz permanecer e me posicionar pela vida e por contexto familiares saudáveis para aqueles que tendo passado por um trauma do abandono possam crescer com todo equilíbrio.

Saudações medievais…

Um comentário:

  1. Sabe que, considerando alguns dos valores de agora e de antigamente, ser "medieval" em algumas áreas nao é má ideia? Claro, nao quero desmerecer os avancos que a sociedade teve, mas algumas coisas nao deviam ter ficado na Idade Média... Entao fica de olho nos portoes, porque vou querer um cantinho no seu castelo.
    Abracao com saudades.

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