quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Entre Demônios e Golpistas

Desde pequeno tenho sido avisado que alguns conflitos são “briga de cachorro grande”. Apesar dos meus 185 cm de altura e “quase” 100 quilos (resta saber em que sentido se dirige o quase) não me considero cachorro grande em quase nenhuma área. A partir desta perspectiva, como reagir à interminável enxurrada de e-mails, vídeos “gentilmente” enviados para sua caixa sempre com alguma ressalva do tipo “isso é seríssimo”, “repasse a todos seus contatos” ou “precisamos fazer alguma coisa”. Me refiro aos e-mails em que ficamos (nós cachorros menores) entre demônios e golpistas.

Por um lado alguns afirmam com revelações surpreendentes (embora com pouca ou nenhuma preocupação com comprovar ou sequer mencionar fontes). Em algumas mensagens sou informado  que há uma conspiração demoníaca em que votar na Dilma significa permitir que o maior sacerdote satanista assuma o controle do Brasil. Em outra uma pessoal supostamente sério afirma sem dúvidas que as urnas eletrônicas estão preparadas para dar uma vitória de 75% aos candidatos de esquerda (aliás hoje há outra posição além de esquerda?). Meu maior medo é que o Tiririca assuma o governo (talvez não seja o pior, mas seu gosto musical é horroroso… imagina ele apresentando uma versão sua do hino nacional!).

Por outro lado uma série de posicionamentos que parecem ser totalmente alérgicos a qualquer crítica que seja dirigida ao governo, a qualquer questionamento feito à sua santidade (é este o tratamento atual, não?) ao presidente da República. Tudo que se fala contra o governo é sempre um golpe das elites  descritas como recalcadas, cruéis e intolerantes… Tendo estudado em um programa de pós graduação na PUC de São Paulo em uma época em que PT ainda era oposição me lembro bem de como era arriscado social e academicamente posicionar-se contra a perspectiva marxista vigente.

Não quero minimizar a seriedade das questões levantadas nem por um lado nem por outro. Os extremos não merecem mais do que chacota, mas sei que muita gente séria e equilibrada têm se debruçado sobre estas questões. Quero apenas registrar como me sinto, como um cidadão relativamente bem informado (resta saber se a informação que recebo é legítima ou verdadeira) e não totalmente destituído de inteligência. Afirmo, após ler o PNDH3 (sim, tomei o tempo para ler tudo aquilo…), que não desejo aquilo tudo para o meu país. Assim, tateando no meio de tanta informação (e confusão) vou tomando minhas decisões. Mas no fundo, no fundo, anseio mais e mais pelo Reino de Deus!

Um abraço de cachorro pequeno!

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Hoje almocei no "Sujinho"

Armado de coragem e de um estômago que digere até borracha (herança de um avô carreteiro ou de uma avó índia, não sei…), hoje almocei em um boteco próximo ao escritório ao qual carinhosamente chamo de “sujinho”. Este nome nem é tanto pela falta de higiene, embora seja o tipo de lugar que é melhor comer de olhos fechados ou no máximo entreabertos. Como não poderia deixar de ser o proprietário é simpático e o pessoal que ali trabalha é sorridente. A comida é gostosa de um jeito meio caseiro, meio relaxado de ser…  Na verdade me divirto no “sujinho”. Há um ar de aventura (será que vou sobreviver a este prato?), um ar de vida dura (embora eu não possa reclamar), há um cheiro de povo (me desculpe General Fiqueiredo) que tem seu charme.
Não sou estranho a jornadas alimentícias que me levam onde nenhum outro homem (minimamente preocupado com saúde) ousou chegar.  Me lembro dos lanches de meia noite com salsicha crua, banana e queijo (para horror de um irmão mais culto e refinado). Me lembro também de uma experiência missionária entre índios da tribo Caiuá. Chegando a uma das moradias me foi oferecido uma bebida chamada chicha. Como todo aluno de 4ª série (ou será 3º ano do Primeiro Ciclo ou 5º ano do ensino Básico, ou…?) sabia que esta é uma bebida feita de milho mastigado e cuspido em um bacia onde fica fermentando (cuspe, lembra?) por alguns dias. Beber aquele “néctar” foi talvez uma das maiores provas de meu ardor missionário.
Minhas filhas tiveram uma experiência também desafiadora no período em que moramos na República Dominicana. Saindo com um grupo de jovens, elas aceitaram comer cerdo (porco) frito. Até pode soar comum demais, mas deixe-me terminar de colorir o quadro… Esta iguaria era preparada em barracas (tipo de feira) em uma calçada de Santiago. Além de ser feito ao ar livre, o óleo era trocado com regularidade religiosa ao final de cada década, adquirindo assim uma consistência de melado e uma cor de piche. Tudo isso, no entanto, era amenizado pela presença de inúmeras moscas ao redor. Segundo nossos amigos dominicanos, se as moscas aprovam deve ser comestível.
Se sobrevivi a tudo isso por que não comer no “sujinho”? E já que estava neste requintado estabelecimento da alta cozinha, escolhi logo um prato (no final era mais uma travessa) de peito de frango e batatas fritas (pelo menos era frango e não carne vermelha…). Da próxima vez que passar por Porto Alegre já esta convidado, almoçamos no “sujinho”. Mal pode esperar não é?

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Wounded Healer

Parafraseando a já célebre citação, este é o título de um livro que eu não li, mas gostei… Deixe-me explicar…


Assisti há algum tempo a um culto em uma igreja muito conhecida. Fiquei devidamente encantado com o louvor e então o pastor começou a pregar. Sua retórica era impecável, suas ilustrações cheias de exemplos e mesmo suas piadas eram exemplares. Trajava um terno muito bem feito e até seu cabelo estava perfeito. Infelizmente (talvez fruto de inveja?) a mensagem igualmente brilhante, me deixou frio, sem reação. Sim, eu sei que a Bíblia afirma que a Palavra de Deus não voltará vazia. Mas fiquei refletindo o que me havia deixado apático.


Por fim concluí que era devido a uma certa “plasticidade” do culto. Tudo era feito cinematograficamente. Eu admiro e valorizo competência em qualquer área que seja. Talvez esteja radicalizando ou justificando minha própria mediocridade, mas acho que qualquer encontro entre Deus e seu povo tem que ter cheiro de gente! Digo mais, aquele que ensina ou ministra de qualquer forma,tem que ter cheiro de gente. Daí eu me lembrar do título acima, que vi na lombada de um livro, gostei, mas nunca cheguei a comprar ou ler.


Na minha vida (e olha que já estou no meu qüinquagésimo terceiro ano de vida) tenho sido tocado por muita gente que falou, ensinou, escreveu… Em geral os que mais me tocam são aqueles que mancam, tropeçam, lutam com suas fraquezas… que tem algumas imperfeições enfim, estão cientes delas e, ainda assim, se arriscam passar pelo ridículo de se expor para que Ele cresça.  Com isso não estou fazendo uma apologia da fraqueza, mas da transparência. Tenho assumido como princípio de vida que não devo tentar ser modelo de chegada, mas modelo de caminhada (com suas quedas e quebraduras inerentes).


Se você, como eu, é seguidor de Jesus, deixe-me desafiá-lo a deixar suas lutas, vitórias e derrotas à mostra. Certamente não garante sucesso, nem faz parte de um bom marketing pessoal, mas tenho bastante convicção de que se aprende mais da caminhada e a respeito do nosso mestre com uma vida real do que com um modelo de vitrine perfeito, mas intrinsecamente artificial.