terça-feira, 19 de outubro de 2010

Praia = frio e vento?

O inverno no sul já terminou oficialmente. Ainda temos algumas noites frescas, daquelas que reclamam um moleton e que para dormir ainda puxamos uma coberta. Mas é evidente que os termômetros estão subindo. Já retomei o uso de bermudas em casa durante o dia e meu hábito (certamente herdado de minha bisavó tupiniquim) de andar descalço. Para quem não conhece as praias do RS, com a possível exceção de Torres, tem uma característica unânime: são sofríveis. Nosso litoral é marcado por ventos frios e constantes, água escura (quando não poluída), areia grossa e escura e uma temperatura de água que a torna ideal… para pinguins! Diante desta realidade me lembro de nossa temporada na República Dominicana e tomo a liberdade de postar aqui um trecho em que comento esta experiência tão diferente.


“Praia! Sim praia... não um praiazinha feia, com areia grossa e água escura. Não praia com uma água em que se molhar é mais uma afirmação de virilidade do que prazer de se molhar.... Mas uma praia com areia branca..., com uma água que é fresca e não fria, de uma transparência quase obscena, com corais e peixes coloridos, com árvores e sombra para se descansar... esta é a praia de Sosua, que fica a 2 horas de casa. Estivemos lá ontem com toda a comunidade. Saímos de casa às 6 horas e às 8:30 já estávamos dentro da água. Só saímos da areia às 16:30 quando ninguém mais aguentava e já era hora de voltar. Como sou um cara de sorte descobri que ali não é o paraíso que parece ser. Logo em um dos primeiros mergulhos, descobri o prazer de se bater o dedão do pé em um ouriço do mar. Considerei arrancar o dedão fora de tanta dor, mas como não consigo mais alcançá-lo com os dentes, tive que esperar. Foi bom, pois em meia hora não doía mais e assim continuo com os 10 dedos do pé. De tarde fomos a um recife (reparem bem no meio da baía) ali descobrimos um ponto em que dois recifes quase se tocam. Sobre o recife a profundidade é de 50 cm, mas o fundo do mar fica a cerca de 6 metros de profundidade. Assim é possível mergulhar e passar por baixo dos recifes neste ponto. Passei várias vezes e me diverti muito. É claro que me queimei além do que devia, mas foi um preço baixo pelo prazer de curtir a praia.”

Fico então mais na lembrança que na esperança de curtir uma praia assim. Sei que para muitos, a definição do céu é uma praia assim ou ainda melhor. Enquanto esperamos por este “ainda melhor”, deixo com vocês esta lembrança agradável!

quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Descobri que sou medieval!

Hoje descobri que sou medieval! Na verdade foi um alívio, pois andava mesmo me sentindo fora de época ou pelo menos meio perdido com a velocidade e o rumo dos acontecimentos. Procurei minha armadura, mas não achei, talvez eu seja no máximo um cavaleiro “cavalgante” e não andante…
Como foi que eu descobri minha “medievalidade”? Esta me foi revelada por um locutor de rádio, o qual eu gosto e respeito. Este fez comentários sobre a posição positivamente medieval de igrejas e religiosos que querem travar o processo político em nosso país impondo sua opinião retrógrada e estúpida sobre assuntos a respeito dos quais não conhecem nem deveriam opinar. A seguir ridicularizou posições anti aborto como machistas e desinformadas (obviamente pré iluministas), e qualquer posição contrária ao casamento homosexual (me senti realmente na idade das trevas) ou oposta à adoção de crianças por casais do mesmo sexo. Para fundamentar seu ponto de vista, certamente desenvolvido ao longo de anos de pesquisa e reflexão, ele afirmou saber que há no Brasil mais de 85 mil crianças ansiosamente esperando por adoção enquanto nós acéfalos medievais impedimos que casais homosexuais as adotem.
Eu já estava buscando meu endereço feudal onde poderia amarrar minha fiel animália de carga quando parei para pensar um pouco (sim, eu faço isso ocasionalmente). Primeiro minha posição anti aborto, longe de ser desinformada, foi alimentada por leituras que demonstram haver pelo menos espaço científico, jurídico e moral (para não incluir teológico) para um debate sobre quando então se inicia a vida humana. Em seguida me lembrei que embora talvez existam apenas 85 mil crianças abandonadas no Brasil (desconfio que o número é muitas vezes maior) o número de crianças esperando por adoção não é tão  grande. Especialmente crianças dentro de um ano de vida. Ao que me consta (experiência pessoal) casais esperam até 3 anos para adotar. Além disso, minhas limitadas pesquisas nos pergaminhos medievais que estudei nos longínguos mosteiros da Universidade de São Paulo, me dão ampla base para afirmar que uma criança sendo criada por dois adultos do mesmo sexo terá sim dificuldade em desenvolver sua identidade sexual de modo saudável, haja vista a ausência de modelos de gênero em seu contexto imediato.
Lembrei-me então da antiga estratégia de debate na qual um lado desqualifica de tal modo o caráter e a competência do interlocutor, que fica difícil prestar atenção no que ele ou ela tem a dizer. Então talvez, só talvez, minha posição não seja tão retrógrada e desinformada. Talvez exista base para se defender a vida humana não importa em que estágio do desenvolvimento, talvez não seja alienado e “xiita” argumentar que embora adultos tenham direito de se relacionar como bem entenderem, há contextos saudáveis e não saudáveis para o desenvolvimento de uma criança. Diante de tudo isso me tranqüilizei e desisti de comprar uma cota de malhas, elmo e escudo e alugar algum pequeno castelo. É uma pena, eu bem que gostaria de partir em uma fantasia quixotesca (refiro-me ao personagem de Miguel de Cervantes, para os que estudaram após 1980), mas a realidade se impõe e minha crença de vida (não religiosa) me faz permanecer e me posicionar pela vida e por contexto familiares saudáveis para aqueles que tendo passado por um trauma do abandono possam crescer com todo equilíbrio.

Saudações medievais…

terça-feira, 5 de outubro de 2010

E deu Tiririca!

Eu me confesso um ingênuo. Não um ingênuo que não crê na maldade humana. Cinquenta e dois anos de vida já enterraram definitivamente esta noção. Nem tampouco um ingênuo que crê em um sistema perfeito. Meus últimos anos deram conta desta fantasia. Mas me considero um ingênuo no sentido de crer que as coisas podem dar certo… ou talvez pelo menos o contrário: que algo esteja tão ruim, que não pode ficar pior. No fundo tenho (ou tinha) ainda um resquício de crer no bom senso da coletividade.

Não conheço o ilustre deputado federal recém eleito Francisco Everardo Oliveira Silva, o Tiririca. Não tenho nenhuma prova de que bem ou mau intencionado. Alguns afirmam até que não nem de longe o mais nocivo dos eleitos. Mas há um tom de piada de mau gosto em tudo isso. Mesmo que eu ignore seu lema “Vote em Tiririca, pior que ta não fica!” ou sua frase de campanha “Você sabe o que faz um deputado federal? Nem eu, vote em mim que eu te conto.” Ainda assim é difícil aceitar que o nobre deputado trará clareza ou lucidez à câmara federal.

Neste domingo de votação Ana Paula, Raquel e eu viajamos por cerca de 4 horas para poder cumprir nosso dever cívico. Tenho convicções fortes contra aborto e promoção da homosexualidade, assim não poderia me furtar de participar. No entanto, minha surpresa e decepção (talvez mais um passo na cura de minha ingenuidade) é que Tiririca teve mais de um milhão e trezentos mil votos. Tenho dificuldade, mesmo diante de tantos eleitores assim, em crer que esta parcela significativa da população confie em sua capacidade como legislador. Tenho de me deparar então com a pergunta do que isso significa: Será mera ironia ou ceticismo quanto ao nosso sistema de governo? Será um movimento de protesto? Será um vale tudo onde já que todo mundo rouba, pelo menos vou votar em quem me diverte? Ou será, me assusto com isso, que ele representa o que realmente quer nosso povo?

Seja lá o que for, percebo um novo congresso altamente tendencioso ao atual governo. Caso a candidata deste governo seja eleita em segundo turno, haverá uma conjuntura em que poderão, potencialmente, alterar grande parte da constituição. Mas não se preocupem, dirão alguns, teremos Tiririca e Romário lá para equilibrar os desvarios dos mais ousados… Diante disso tudo me pergunto se vale o dito popular que “cada povo tem o governo que merece”, ou se Deus resolveu deixar nosso país sofrer as conseqüências de suas escolhas. Uma coisa tenho certeza, o outro ditado famoso: “Vox populi, Vox Dei”, realmente não é verdadeiro. Pelo menos terei o consolo de saber pelo palhaço Tiririca o que faz um deputado federal…

do eleitor que deve ter cara de palhaço...