sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Hoje fui ultrapassado!

Pois é hoje eu fui ultrapassado! (antes que algum engraçadinho se apresente, fui (e não estou) ultrapassado no trânsito!). O fato em si nem sequer mereceria menção se não fosse por alguns aspectos que deram a esta ultrapassagem um colorido todo especial.
Eu estava parado na sinaleira e uma senhora cruzava a minha frente. Quando esta estava bem na minha frente a sinaleira abriu e eu simplesmente esperei enquanto a senhora continuava a cruzar a pista. Um indivíduo logo atrás de mim buzinou, e tomando a pista da direita e cantando os pneus ao arrancar, me ultrapassou e enquanto gesticulava (estaria ele treinando uma habilidade recém adquirida em LIBRAS?) entrou à esquerda na avenida adiante de mim.
Obviamente o evento foi tão surreal que nem sequer me ofendeu, à princípio… Continuei meu caminho (sim, só após a senhora, agora totalmente apavorada, ter terminado de cruzar a minha frente) e logo chegava em segurança ao meu escritório. Mas foi neste trajeto (cerca de 5 minutos) que fiquei indignado. Não pessoalmente, mas como membro que sou da raça humana, brasileiro e morador de Porto Alegre.
Indignado com a insensatez de um indivíduo que em outras circunstâncias provavelmente concordaria com o que escrevo aqui, mas naquele momento se sentiu no direito de buzinar, me ultrapassar pela direita (aos menos avisados, isso é proibido) não dar preferência a um pedestre que cruzava na faixa, além de praticar uma série de gestos que apesar de simples eram bastante eloqüentes.
O que acontece nestes momentos? Já li uma vez da expressão “seqüestro emocional”, que é quando uma parte bastante instintiva de nosso cérebro toma as rédeas de nosso processo de pensamento e reage antes que eu possa literalmente pensar. Infelizmente me declaro réu confesso de momentos assim. São momentos em que algo como uma cortina vermelha desce diante de meus olhos e quando me “dou conta”, já falei coisas que em sã consciência preferiria não ter dito.
Podemos alegar o anonimato de uma grande cidade, o stress do trânsito, o atraso para um compromisso, o que seja! Mas a realidade é que por alguma razão imperceptível para os demais mortais passo a acreditar que minha “dignidade foi ferida”, saco da espada (ou revolver, ou fuzil, ou meramente de uma língua afiada) e saio pelo mundo fazendo justiça. Que pena, pois são nestes momentos que em geral faço menos justiça, que sou menos humano e mais animal irracional…
Passei aquele dia não ruminando a ultrapassagem, mas avaliando este processo de selvageria súbita que nos acomete de vez em quando. Tenho certeza de que homens e mulheres mais equilibrados que eu, sofrem menos deste mal… mas para aqueles que às vezes gostariam de apagar gestos, palavras, ou ultrapassagens, deixo minha solidariedade e a mesma esperança que com o tempo e com uma caminhada mais íntima com o Pastor de nossas almas, possamos ter menos e menos destes eventos.

Um abraço mais tranqüilo,

Daniel Lima

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